segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O tanto

Vago nos meus pensamentos ao léo
Corto os pulsos e sangro palavras
Verto imaginação e transpiro idéias
Morro em mim mesmo e renasço no papel

O tanto que tive e nunca vi
O tanto que quis e ah como eu quis
O tanto que fui, no entanto que sou
O tanto que perdi e ninguém encontrou

, mas fui

[...mas sou]

Eu

Ah eu, que me dera eu fosse eu
Se eu ao menos soubesse quem eu sou
Assim poderia tentar ser eu
E quem sabe poder reclamar o que é meu

Eu que me perdi tentando me encontrar
Eu que me troquei por nada, pra tentar agradar
Eu que silenciei quando tinha tanto para falar
Eu que falei quando o melhor era calar

Eu sou eu, mas sou um eu inconstante
E na verdade, gostaria de o ser a todo instante
Porém o eu que eu queria ser
Eu queria que fossem todos os outros
Assim eu poderia morrer
Dentro de mim mesmo
E depois renascer

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Minha raça

Sou de uma raça que sangra palavras
que canta lamentos e brinda à vida
que chora contente e ri tristemente
mas que nunca foge da briga

Somos todos guerreiros, orgulhosos, cruéis e maravilhosos
Levantamos nossas bandeiras, sonhar, buscar, ação
Metade de nosso ser pensa, age e tem sentimentos
a outra metade é como um vulcão

Lutamos por nós e por todos
ainda que se inclua em todos 'o outro lado'
Para nós não há maior horror e desgosto
do que uma angústia sem conforto,
do que um grito vazio,
do que um medo calado

sábado, 30 de agosto de 2008

Acho que a vida anda passando a mão em mim...

Nesta quinta-feira última, dia 28/08, eu fui à galeria Theodoro Braga no CENTUR visitar ao trabalho "Atritos" que fazia uma compilação de diversas linguagens artísticas. Quando cheguei havia uma artista pintando um mural enquanto alguns visitantes eram convidados a pintar no centro da galeria, por onde ao som de um sonoplasta inspirado e vezemquando uma voz masculina intervinha com algum poema. E no ponto nevrálgico do trabalho estava Juliana Tourinho (atriz de grande carga performática) brincando de viver e interagindo com o que a rodeava. Eis que em dado momento o sonoplasta insere uma gravação perfeitamente elocubrada pelo trabalho de Juliana "Eu acho que a vida anda passando a mão em mim...". Estava feito não precisava de mais nada. Tudo se encaixara.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Um Dragão adormecido ou pequena mensagem sub-liminar.

“Um dragão adormecido bem no meio da arena. Sim, ele estava lá para me lembrar, qualquer deslize – por mais lépida insegurança ou desatenção que fosse – e eu quebraria o transe. E em um derradeiro arrependimento arrasaria todo o amálgama de encantarias forjado naquele templo. Por tantos corajosos que ali pisaram não havendo como não sagrar aquele chão, jazia ainda o respeito que se tinha ao pisá-lo. E com nada menos que altivez se enfrenta um dragão, então com altivez entrei no altar, as luzes me encobriram, mas ouvi o animal acordar. A boca do dragão se abriu e eu me atirei.”[1]

Não só no palco vive um dragão à encarar um ator em seu derradeiro esgar de ser real, mas na vida damos voltas ao redor de um tão grande quanto nossos anseios. Este não menos feroz que nossa ânsia de nos materializarmos ao espaço que nos rodeia, não poupa um apenas “querer estar lá”. E enquanto indecisos nos privamos de fazer algo, para tão somente querer fazer algo, não nos apercebemos da prontidão de um ser voraz a nos sombrear. O jovem como um ator de papel indefinido, relegado à falta de motivação da sociedade como um todo e punido com a (des)estrutura dada à ele para se identificar e se inserir em seus reais espaços, muitas vezes é tragado por um dragão. E como uma profecia não cumprida, o ímpeto natural deságua em outras corredeiras para além da qual ele pertence.

Não nos privemos. Enfrentemos o dragão.

[1] Trecho de uma crônica teatral de minha autoria.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

azul.escuro (quase.preto)

Até as minímas coisas são feitas de fúria
Até as coisas mais belas se banham de amargura
O tédio modorrento faz o ar pesar
Explodir seria mais fácil que queimar?!

Delírios tomam forma e me encantam,
me drogam e depois me abandonam
Inflamam meu ego, me deixam cego
Fogem de mim e sozinho eu tropeço

Rolo no chão, me desespero e vomito;
me atolo na vergonha e ainda minto
(Digo que me quero, que me espero)

Apenas uma desculpa pra me levantar começar outra vez

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Conclusão de um louco

Eu, que sou tido como louco entre os próprios loucos,
que não raro me transformo no oposto de mim mesmo,
só para me compreender e saber o que eu não sou...

Eu que tentando me encontrar tive que (por vezes) me perder.
E embora sabendo que isso é um clichê da vida
aprendi a gostar de tudo, mesmo sendo assim.

Mesmo tudo sendo simples, mesmo tudo sendo banal,
mesmo tudo sendo apenas isso mesmo.
Eu aprendi que é assim (normal)

domingo, 27 de julho de 2008

Um poema na chuva

Calmamente, uma a uma elas se atiram, atiram-se sem medo,
Devagar caem de forma melancólica e me olham através do vidro
E eu ali entorpecido, fitando-as com calma gritando inaudível
E chorando sem lágrimas, vendo a chuva cair, sem violência,
E sim com sensibilidade, molhando a terra lá fora,
Molhando a mim mesmo aqui dentro,
Molhando-me com acuidade nem uma gota me encosta,
Mas molham minha alma, meus pensamentos

E tudo que penso já não tem frescor e nitidez
Apenas uma amarga sensação do que podia ter sido
Ah se eu pensasse melhor, se eu cuidasse melhor,
Se eu melhor olhasse e se eu melhor amasse...
(mas a chuva cai lá fora e molha aqui dentro)

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Sobre as verdades e o silêncio

A verdade não é aquela dita mais vezes e não está no som mais vibrante
A verdade quase sempre está naquele silêncio que cala mais fundo

Consulta com o analista

O que tu entendes por teatro?
- O que alguém pode entender por vida?
O que tu busca em ser ator?
- O que um louco busca na insanidade?
O que vc sente enquanto representa?
- O que alguém sente sendo tudo e nada ao mesmo tempo, tendo que explicar o caos, tendo tudo pra dizer e sabendo que só pode dizer uma palavra?
Porquê há mais para se dizer do que aquilo que dizemos
É por isso que calamos
Porquê há mais o que mostrar do que consiguiriamos
É por isso que beijamos
Porquê há muito mais para se lembrar e não lembramos
E é por isso que sentimos.
"Eu costumava ser capaz de chorar, mas agora estou além das lágrimas"
(4,48 psychosis de Sarah Kane )