“Um dragão adormecido bem no meio da arena. Sim, ele estava lá para me lembrar, qualquer deslize – por mais lépida insegurança ou desatenção que fosse – e eu quebraria o transe. E em um derradeiro arrependimento arrasaria todo o amálgama de encantarias forjado naquele templo. Por tantos corajosos que ali pisaram não havendo como não sagrar aquele chão, jazia ainda o respeito que se tinha ao pisá-lo. E com nada menos que altivez se enfrenta um dragão, então com altivez entrei no altar, as luzes me encobriram, mas ouvi o animal acordar. A boca do dragão se abriu e eu me atirei.”[1]
Não só no palco vive um dragão à encarar um ator em seu derradeiro esgar de ser real, mas na vida damos voltas ao redor de um tão grande quanto nossos anseios. Este não menos feroz que nossa ânsia de nos materializarmos ao espaço que nos rodeia, não poupa um apenas “querer estar lá”. E enquanto indecisos nos privamos de fazer algo, para tão somente querer fazer algo, não nos apercebemos da prontidão de um ser voraz a nos sombrear. O jovem como um ator de papel indefinido, relegado à falta de motivação da sociedade como um todo e punido com a (des)estrutura dada à ele para se identificar e se inserir em seus reais espaços, muitas vezes é tragado por um dragão. E como uma profecia não cumprida, o ímpeto natural deságua em outras corredeiras para além da qual ele pertence.
Não nos privemos. Enfrentemos o dragão.
[1] Trecho de uma crônica teatral de minha autoria.
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
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